quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Repostagem Oportuna: A traição aos lanceiros negros

O DOCUMENTO DA DISCÓRDIA

Contestado por muitos defensores de Canabarro, o documento escrito por Duque de Caxias para Moringue em 9 de novembro de 1844 dá instruções a Moringue, pede a ele que poupe “sangue brasileiro”, que dê fuga a Canabarro e avisa que as tropas estarão desarmadas, configurando prova da traição de Porongos.


[…] Regule V. S. suas marchas de maneira que no dia 14, às duas horas da madrugada possa atacar as forças a mando de Canabarro, que estará nesse dia no Serro dos Porongos. […] No conflito poupe o sangue brasileiro o quanto puder, particularmente da gente branca da Província ou índios, pois bem sabe que essa pobre gente ainda nos pode ser útil no futuro. […] Não receia a infantaria inimiga, pois ela há de receber ordem de um ministro de seu general-em-chefe para entregar o cartuchame sob o pretexto de desconfiarem dela. Se Canabarro ou Lucas forem prisioneiros deve dar-lhes escápula de maneira que ninguém possa nem levemente desconfiar […]


A TRAIÇÃO AOS LANCEIROS NEGROS (originalmente postado em 13 de setembro de 2009) Nos momentos finais da revolução Farroupilha ocorreu o "Massacre de Porongos", em 1844, na zona rural de Pinheiro Machado, onde os "lanceiros negros" foram mortos pelas tropas imperiais.

Mais uma vez se aproxima a data de 20 de setembro, comemorada no Rio Grande do Sul e pelo mundo afora como uma referência (e certa deferência) aos heróicos atos do exército farroupilha. Bem menos lembrada, mas nem por isso menos heróica, foi a participação de negros neste exército, organizado pela elite gaúcha, os ricos fazendeiros escravocratas do Rio Grande do Sul.

Os lanceiros negros formavam uma tropa especial do exército farroupilha que foi decisiva em muitas batalhas travadas durantes os dez anos de guerra. Porém, segundo André Melo, especialista em História Contemporânea pela Fapa, "Engana-se quem pensa que realmente existiu uma democracia racial entre os farrapos. Os soldados até poderiam ser negros, mas os oficiais eram todos brancos."

Por trás da participação dos negros havia a esperança da liberdade, a alforria, após a guerra. A participação dos negros terminou de forma trágica em 14 de novembro de 1844: a traição de Porongos, com o massacre dos lanceiros negros. Desarmados um dia antes por ordem de David Canabarro, os negros foram alvo fácil para as tropas do Império sob o comando de Francisco de Abreu, o Moringue.

O triste acontecido foi durante muitos anos ocultado da nossa história. Até hoje, grupos ligados ao tradicionalismo negam o episódio, e acusam os historiadores de renegar o heróico passado farrapo. Porém cabe a cada um de nós, estudantes e pesquisadores, fazer lembrar o massacre e desta forma homenagear esses heróis anônimos da luta pelo fim da escravidão.

A traição de Porongos e o massacre dos lanceiros negros é num dos mais lamentáveis episódios da história da humanidade.

É uma façanha que não orgulha, nem serve de modelo para nenhuma terra.

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